Desde que teve início a vacinação contra COVID-19 no Brasil, dúvidas sobre as vacinas começaram a surgir, e boa parte gira em torno da possibilidade de o imunizante causar a doença. Apesar de não haver dados oficiais sobre o número de relatos, não é raro encontrar pessoas que tiveram a doença ou alguns sintomas dela após a imunização – e, segundo especialistas, isso não significa que a vacina é capaz de infectar.
Vacina pode causar infecção por COVID-19?
Nos últimos meses, em que milhões de pessoas começaram a ser vacinadas contra a COVID-19 no País, têm sido frequentes os relatos sobre a manifestação da doença pouco tempo após a aplicação do imunizante. Pela proximidade entre a imunização e o desenvolvimento dos sintomas, muita gente passou a concluir que a vacina poderia causar COVID-19 – mas especialistas asseguram que isso é impossível.
Como funciona a vacina contra COVID-19?
No Brasil, por enquanto, dois imunizantes estão sendo usados na população: a CoronaVac (desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida em parceria com o Instituto Butantan) e a ChAdOx1 nCoV-19 (desenvolvida por uma parceria entre a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford, e produzida pela Fundação Oswaldo Cruz), que têm mecanismos diferentes para atingir o mesmo objetivo.
Enquanto a CoronaVac utiliza uma versão inativada do vírus causador da COVID-19, a chamada vacina de Oxford é composta por outro tipo de vírus “incrementado” com o material genético do novo coronavírus. Quando aplicadas no organismo, ambas as vacinas “enganam” o sistema imunológico, fazendo com que ele desenvolva anticorpos mesmo sem haver a infecção.
O processo, no caso, é o mesmo que já ocorre naturalmente quando o corpo entra em contato com o vírus real, contraído através das vias respiratórias. Quando há infecção, e não apenas um estímulo “falso” como o provocado pela vacina, porém, o organismo pode não conseguir construir uma defesa eficiente antes do quadro se agravar. A gripe e as vacinas usadas contra ela, por exemplo, funcionam da mesma forma.
COVID-19 após vacina: por que acontece
Conforme explica a farmacêutica Julia Alves de Souza, o vírus da COVID-19 tem um período de incubação como qualquer outro. Isso significa que, quando contraído, ele pode levar diversos dias até de fato se manifestar em sintomas como febre, tosse seca e falta de ar.
Assim, uma possibilidade é que a pessoa receba a vacina poucos dias após ter sido infectada pelo vírus sem saber. Neste caso, a vacina não é capaz de criar uma resposta imunológica tão instantânea a ponto de frear a evolução da infecção.
Outro cenário possível é o da pessoa que, apesar de não ter contraído o vírus antes da primeira dose, foi infectada entre a primeira e a segunda. Como lembra a imunologista Ana Karolina Barreto, da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), duas aplicações são necessárias para que as vacinas atinjam sua eficácia máxima e, por isso, a doença ainda pode se manifestar caso o SARS-CoV-2 seja contraído entre as doses.
Além disso, segundo a médica, nem quando atingem a eficácia máxima as vacinas são capazes de impedir 100% dos casos de COVID-19. Segundo os desenvolvedores, os imunizantes são capazes de impedir que os quadros se desenvolvam com gravidade, praticamente eliminando o risco de o paciente precisar, por exemplo, ficar na UTI e precisar de respirador. Casos leves e assintomáticos, porém, seguem possíveis.
Ter sintomas de COVID-19 após vacina é natural
Quanto ao aparecimento de sintomas como febre baixa e dores no corpo após a vacinação contra COVID-19, tanto Julia quanto Ana afirmam que isso não só é normal e esperado, como também é comum na imunização com quase qualquer tipo de vacina. Isso porque, conforme explicam a farmacêutica e a imunologista, os imunizantes fazem o sistema imunológico “trabalhar” repentinamente.
“Ao tomar a vacina, a pessoa não contaminada com o vírus tem seu sistema imune altamente estimulado a produzir uma defesa específica e, neste momento, podemos ter os sintomas adversos esperados em proporções menores. Serão sintomas passageiros que podem ser controlados com medicamentos apenas para contê-los, sem preocupações”, afirma Julia.
Desta forma, ambas frisam que as vacinas não geram a doença, mas podem, sim, causar sintomas leves parecidos com os dela. Segundo Julia, nem seria possível que a vacina provocasse a doença, já que o material genético incompleto do vírus ou sua versão inativada são incapazes de fazer isso.