Aprender a identificar o que é um relacionamento abusivo pode fazer a diferença para te ajudar ou salvar uma vítima de seu agressor.
As discussões envolvendo o relacionamento abusivo vem ganhando cada vez mais visibilidade e espaço importante na mídia. Mesmo que o assunto fosse pouco abordado antigamente, hoje em dia, torna-se cada vez mais necessário falar sobre a situação e os perigos causados pelo envolvimento. Mas afinal, o que é relacionamento abusivo?
Apesar do assunto ganhar mais atenção, existem ainda diversas pessoas que não entendem seu teor, muito menos sabem identificar um. Assim, aprender mais sobre o problema é essencial para salvar muitos.
Antes de mais nada, é preciso entender que um relacionamento abusivo não precisa, necessariamente, ocorrer em relações amorosas. Muitas vezes, as vítimas sofrem abuso pela família, em seus ambientes de trabalho e entre amigos. A configuração da violência não é jamais apenas física: na maioria das vezes, ela é psicológica e, principalmente, emocional. Seja como for, a dor sentida consegue ser tão grande quanto, causando destruição e traumas difíceis de superar.
Muitas vezes, ao passar por um relacionamento abusivo, torna-se difícil identificar por si só os sinais de abuso, bem como ter uma visão completa da relação. Conseguir se distanciar o suficiente para obter um panorama de tudo aquilo que ocorre é essencial para buscar ajuda o mais rápido possível. Nesse sentido, conhecer os sinais vermelhos de um relacionamento abusivo pode fazer a diferença em sua vida, ou na daqueles próximos de você.
O que é relacionamento abusivo?
Primeiramente, um relacionamento abusivo configura toda e qualquer possível relação de poder excessivo sobre o outro. Além da constante tentativa de mandar em alguém, surgem também as atitudes nocivas e ordens verbais com o intuito de humilhar e crucificar. As situações podem ser sutis o suficiente para que a vítima não perceba a mudança, o que a condiciona à sua nova rotina, de forma que o agressor adquira controle sem que nada de diferente seja suspeitado.
Os alertas mais óbvios para o problema consistem na constante manipulação, intimidação, abuso de poder, punição, jogos de poder, violência psicológica e humilhação. Tudo isso pode ser considerado abusivo, e exercitado o suficiente para que se torne o “novo normal” da vítima. Por ser mais comum do que o imaginado, relacionamentos abusivos muitas vezes podem ser disfarçados de cuidado extra, passando despercebidos.
Possíveis fases de um relacionamento abusivo
Por acontecerem na maioria das vezes de forma velada, as agressões de um relacionamento abusivo ocorrem em fases, constantemente circulando entre a manipulação e o controle. Tudo pode começar com o constante julgamento das roupas utilizadas, bem como ciúme excessivo, checagem das redes sociais e amizades e além disso, vitimização do agressor. O abuso pode seguir essa ordem ou não, mas muitas vezes se tornam um ciclo vicioso, que deixa a vítima cada vez mais fragilizada.
- Fase 1: Em um primeiro momento, as agressões costumam ser verbais, no formato de ofensas, xingamentos, gritos, crises de ciúme e humilhações. A violência psicológica é a mais presente, bem como a manipulação e o controle. Assim, torna-se difícil para a vítima identificar o abuso, já que seu psicológico é lentamente destruído.
- Fase 2: Existem ainda situações onde a violência psicológica evolui para a violência física. Beliscões, tapas, socos e empurrões são comuns, e a situação se agrava o suficiente para que as marcas da agressão tornem-se visíveis. Quando possível, muitas vítimas saem da relação neste momento, pedindo separação e denunciando seus agressores. Todavia, a realidade infelizmente não compreende muitos.
- Fase 3: Com a insegurança da vítima, o agressor sente que aos poucos perde seu controle. Surge então a última instância do abuso, conhecida como “fase lua de mel”. Aqui, o arrependimento é constante, manipulando a vítima de forma que ela acredite que o comportamento abusivo jamais acontecerá novamente, justificando a situação por meio de amor. Após acreditar nas mentiras do abusador, muitos voltam para a fase inicial dos abusos.
Sinais de um relacionamento abusivo
De forma que seja possível identificar o que é relacionamento abusivo, determinadas situações podem ser analisadas, bem como a frequência com a qual elas ocorrem. Muitas são sutis o suficiente para que a vítima não seja capaz de notar o perigo da situação. Assim, é crucial que quem passa por uma relação manipuladora tenha apoio daqueles próximos de si.
- Ciúme obsessivo;
- Constrangimento em público;
- Opiniões constantemente invalidadas;
- Sentimento de culpa diário;
- Infidelidade e conflitos amorosos normalizados;
- Controle da vida financeira;
- Sentimento de posse;
- Ameaças constantes do que pode acontecer caso você denuncie;
- Abuso de poder (racismo, machismo e preconceito no geral);
- Necessidade constante de saber onde o outro está;
- Distanciamento da família;
- Julgamento do passado.
Outros alertas
Existem ainda outros sinais mais específicos que permitem identificar um relacionamento abusivo. Seja como for, é importante entender que nada começa com agressões psicológicas ou físicas intensas em um primeiro momento da relação. A evolução é gradual, fragilizando a vítima aos poucos, tornando-a indefesa e cada vez mais acostumada com os abusos sofridos.
1 – Excesso de amor
Um dos comportamentos padrão do agressor consiste em sua capacidade de encantar e seduzir a vítima. No caso de relacionamentos amorosos, é comum que ele se apresente como alguém romântico, extremamente apaixonado e capaz de fazer tudo por quem ama. A autoestima da vítima é constantemente alimentada, além dela ser colocada em um pedestal, cegando-a para os problemas iminentes. As grandes provas de amor, declarações e manifestações exageradas são alguns dos exemplos do que é feito pelo abusador sem espontaneidade.
Mas afinal, como aprender a diferenciar o excesso de amor do aviso de perigo? Normalmente, as manifestações de adoração grandiosas costumam ser precedidas de dias negativos, como brigas, agressões, humilhações e ciúmes. Assim, a demonstração surge de forma que possa “tapar o buraco”, silenciando o desentendimento. Uma das características mais letais de um relacionamento abusivo é o dia da semana ou mês marcado por amor, porém rodeado de situações nocivas.
2 – Teia de abuso
Uma das melhores definições de um relacionamento abusivo é a de que ele se assemelha a uma teia. A vítima, apesar de ser incapaz de perceber, encontra-se presa por fios praticamente invisíveis, mas paralisantes. Ela é construída aos poucos, de forma discreta, já que quanto mais imperceptível, maior e mais poderosa ela se torna. O agressor se aproveita da ignorância da vítima para construir sua estratégia, esperando até o último segundo para capturar sua presa.
3 – Superproteção
Outro dos grandes sinais do que é relacionamento abusivo consiste na superproteção. Mesmo que se assemelhe a um cuidado digno de respeito, disfarçado de proteção e carinho, a realidade prova ser diferente. Passado certo tempo, a atitude solícita torna-se uma arma de depreciação e chantagem. A tal proteção é utilizada para justificar a incapacidade da vítima, acusando-a de ser fraca e incapaz de realizar até mesmo as tarefas mais simples. Isso ocorre, porém, pelo fato do agressor acabar com seus direitos de decidir sua vida por si só.
Assim, é essencial manter a própria independência, seja ela emocional, financeira ou de círculos sociais. Dessa forma, perder seus direitos torna-se cada vez mais difícil, impedindo o agressor de agir e tomar conta de sua vida.
4 – Necessidade de mudança
Além da constante manipulação emocional e psicológica, o agressor também se utiliza da imposição para controlar até mesmo as menores decisões da vítima. De nada se assemelham às críticas construtivas: em um relacionamento tóxico, sugestões de mudança são moralistas, sempre seguindo os critérios do que é belo e bom do abusador. O ponto de vista do outro deve sempre ser colocado acima do seu, sendo as insinuações óbvias e cada vez mais absurdas.
5 – Chantagens e ameaças
Mesmo que da forma mais sutil possível, situações onde chantagens e ameaças são inseridas na vida da vítima são extremamente comuns. Normalmente, elas se apresentam na ordem psicológica, apelando sempre para a vergonha, culpa e abandono. Chantagens emocionais costumam ser principalmente perigosas, já que são capazes de paralisar a vítima e torná-la incapaz de agir a respeito da situação. Todavia, as ameaças podem ser físicas também. O que realmente importa é fragilizar o outro o máximo que o abusador conseguir.
O que fazer para sair de um relacionamento abusivo?
Por mais difícil que possa ser, sair de um relacionamento abusivo ainda é possível. O primeiro passo é identificar os sinais e saber que, se preciso, você pode procurar ajuda. Acima de tudo, além de desfazer a relação com seu agressor, buscar ajuda psicológica na terapia e apoio daqueles próximos de si é crucial. Assim, recuperar aos poucos sua autoestima e segurança torna-se mais fácil, coisas minadas por abusos contínuos. Fortalecer a inteligência emocional é essencial para evitar cair no ciclo vicioso novamente.
Em seguida, é preciso reforçar cada vez mais a realização de que a culpa jamais foi sua. A manipulação emocional trabalha de forma que seja difícil entender que os erros não foram ocasionados por atitudes suas, mas sim por atitudes tóxicas partidas do agressor. Novamente, empoderar-se e resgatar suas melhores qualidades assume um papel importante para que a noção volte a fazer sentido para você.
Conversar com pessoas que também já passaram por relacionamentos abusivos é uma boa forma de aprender a identificar outros comportamentos nocivos de um agressor. Assim, qualquer repetição da situação deixa de acontecer, a superação da tristeza do outro servindo como combustível para sua própria recuperação.
Acima de tudo, lembre-se que você não está sozinha. Caso conheça alguém passando por um relacionamento abusivo, busque ajudar a pessoa da melhor forma possível. Existem ainda serviços públicos para ajudar quem sofre de violência psicológica e/ou física em um relacionamento. Denuncie anonimamente discando 180, na Central de Atendimento da Mulher.
Por Amanda Birck