Ainda falta muito para que o transplante se torne uma realidade acessível via SUS; porém já existem resultados impressionantes, inclusive com gestações bem sucedidas
O transplante de útero voltou a ser assunto quando Jessica Alves, uma mulher trans, anunciou recentemente quer realizar o procedimento para engravidar com o próprio esperma que tem congelado. Apesar de nunca ter sido realizado em pessoas transgênero, o transplante de útero já foi realizado em alguns países – inclusive no Brasil – e alguns deles resultaram em gestações bem sucedidas .
Os estudos no Brasil começaram no final de 2013, mas algumas pesquisas já eram realizadas na Suécia e Estados Unidos . Tanto que, em 2014, o país europeu apresentou o primeiro caso de gravidez por transplante uterino do mundo com doadora viva. Entretanto, o mesmo já aconteceu com doadora morta e o feito inédito foi realizado no Brasil, onde o transplante ocorreu em 2016 e a gestação e nascimento em 2017.
Desde a primeira gestação por transplante de útero, a cirurgia já foi realizada em mais de 60 mulheres, onde nove engravidaram, mas apenas sete deram à luz. O iG Delas conversou com o ginecologista Dani Ejzenberg, supervisor do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas e um dos fundadores da Sociedade Internacional de Transplante de Útero, para entender mais sobre o procedimento e como está o andamento para que ele se torne uma realidade no Sistema Único de Saúde (SUS).
Transplante de bem-estar
O útero, diferente de outros órgãos que se costuma noticiar o transplante – coração, rins, pulmões, fígado -, não é essencial para que a pessoa continue viva. Por isso, de acordo com o especialista, ele entra na categoria de transplante de bem-estar, como é feito em casos de rosto e mãos, por exemplo. Assim, como ele explica, são transplantes para melhorar a qualidade de vida.
Diferente dos órgãos vitais, que precisam ser transplantados em poucas horas após a retirada, independente do doador ser vivo ou morto, no caso do útero ainda não existe um limite estabelecido sobre qual é a janela de tempo.
“A gente tem estudos em animais que eles supõem que o útero aguentaria até vinte e quatro horas. Isso entre os órgãos varia, por exemplo, o coração deve ser transplantado em até três horas. Mas o útero ainda não se sabe. Quando você usa doadora viva a logística é mais simples, porque você sabe quando vai ser feito o transplante, eles duram em média dois a três horas, é o tempo entre retirada e o tempo que o órgão fica sem receber sangue e oxigênio. Quando você usa doadora falecida, o nosso é o caso mais longo que chegou: foram sete horas e cinquenta entre remover o útero até conseguir terminar de implanta-lo.”
Riscos
Considerado um transplante para melhorar a qualidade de vida de mulheres que precisaram retirar o útero ou nascem sem o órgão (como alguns casos de pessoas que sofrem da Síndrome de Rokitansky), quando se fala em doadoras falecidas, os riscos existentes são somente para quem recebe o novo útero. Antes da operação que resultou na gravidez aqui no Brasil, a segunda transplantada precisou retirar o órgão recebido depois de dois dias por apresentar entupimento nos vasos do útero.
- Mais de 60 órgãos pessoas já receberam transplante de útero com sucesso pelo mundo
- O Brasil foi o primeiro país a transplantar o útero de uma doadora morta; a receptora engravidou e deu à luz no ano seguinte
- Segundo especialista, os riscos são baixo tanto para doadoras quanto receptoras
- A operação pode se tornar uma alternativa para pessoas que querem engravidar, mas não tem úter
O transplante de útero voltou a ser assunto quando Jessica Alves, uma mulher trans, anunciou recentemente quer realizar o procedimento para engravidar com o próprio esperma que tem congelado. Apesar de nunca ter sido realizado em pessoas transgênero, o transplante de útero já foi realizado em alguns países – inclusive no Brasil – e alguns deles resultaram em gestações bem sucedidas .
Os estudos no Brasil começaram no final de 2013, mas algumas pesquisas já eram realizadas na Suécia e Estados Unidos . Tanto que, em 2014, o país europeu apresentou o primeiro caso de gravidez por transplante uterino do mundo com doadora viva. Entretanto, o mesmo já aconteceu com doadora morta e o feito inédito foi realizado no Brasil, onde o transplante ocorreu em 2016 e a gestação e nascimento em 2017.
Desde a primeira gestação por transplante de útero, a cirurgia já foi realizada em mais de 60 mulheres, onde nove engravidaram, mas apenas sete deram à luz. O iG Delas conversou com o ginecologista Dani Ejzenberg, supervisor do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas e um dos fundadores da Sociedade Internacional de Transplante de Útero, para entender mais sobre o procedimento e como está o andamento para que ele se torne uma realidade no Sistema Único de Saúde (SUS).
Transplante de bem-estar
O útero, diferente de outros órgãos que se costuma noticiar o transplante – coração, rins, pulmões, fígado -, não é essencial para que a pessoa continue viva. Por isso, de acordo com o especialista, ele entra na categoria de transplante de bem-estar, como é feito em casos de rosto e mãos, por exemplo. Assim, como ele explica, são transplantes para melhorar a qualidade de vida.
Diferente dos órgãos vitais, que precisam ser transplantados em poucas horas após a retirada, independente do doador ser vivo ou morto, no caso do útero ainda não existe um limite estabelecido sobre qual é a janela de tempo.
“A gente tem estudos em animais que eles supõem que o útero aguentaria até vinte e quatro horas. Isso entre os órgãos varia, por exemplo, o coração deve ser transplantado em até três horas. Mas o útero ainda não se sabe. Quando você usa doadora viva a logística é mais simples, porque você sabe quando vai ser feito o transplante, eles duram em média dois a três horas, é o tempo entre retirada e o tempo que o órgão fica sem receber sangue e oxigênio. Quando você usa doadora falecida, o nosso é o caso mais longo que chegou: foram sete horas e cinquenta entre remover o útero até conseguir terminar de implanta-lo.”
Riscos
Considerado um transplante para melhorar a qualidade de vida de mulheres que precisaram retirar o útero ou nascem sem o órgão (como alguns casos de pessoas que sofrem da Síndrome de Rokitansky), quando se fala em doadoras falecidas, os riscos existentes são somente para quem recebe o novo útero. Antes da operação que resultou na gravidez aqui no Brasil, a segunda transplantada precisou retirar o órgão recebido depois de dois dias por apresentar entupimento nos vasos do útero.
“Uma cirurgia do útero de retirada de útero em uma doadora viva é considerada uma cirurgia de porte médio porque você retira o útero, um pequeno pedaço da vagina e retira vasos pra que você faça o implante do órgão na receptora. Até agora, a gente não teve nenhuma complicação grave para as doadoras, mas eventos de fístulas urinárias (problema no trato urinário). Como o primeiro caso é de 2014, é muito difícil de falar em eventos a médio e longo prazo. O que a gente tem de relato até aqui é que as doadoras estavam muito felizes em poderem ajudar. Nos Estados Unidos a gente teve doadoras que não tinham nenhum tipo de relacionamento com a receptora.”
Para engravidar
Quem recebe o útero, assim como qualquer outra pessoa que passa por um transplante, precisa tomar imunossupressores para evitar a rejeição do órgão pelo resto da vida. De acordo com o especialista, estes medicamentos são compatíveis com a gravidez – não oferecendo risco de má formação fetal – e amamentação.
Davi também fala que a maioria das doações do órgão são de mães para filhas, justamente para que elas possam engravidar. Entretanto, o recomendado é que a doadora tenha, no máximo, 57 anos. Além disso, o nascimento do bebê por útero transplantado deve ser via cesárea, já que a cirurgia para implantação do órgão envolve os ligamentos do abdômen.
Próximos passos do transplante de útero
O médico acredita que com o aumento de nascimentos através de úteros transplantados em diversos países, como índia, República Tcheca, Inglaterra, por exemplo, contribui para que a técnica saia do âmbito experimental e se torne uma alternativa real para quem deseja engravidar , mas não consegue por não ter o órgão.
“Isso ainda vai precisar passar por um âmbito legal também. O primeiro passo vai ser a transição entre a modalidade experimental para uma modalidade que possa ser oferecida e depois, em um segundo momento, é sobre o financiamento: se vai ter um financiamento ou se isso vai ter uma cobertura pública”, explica.
Além disso, alguns detalhes também precisam ser vistos observados para a relização deste tipo de tranplante, especialmente se ele for oferecido pelo sistema público de saúde (SUS), como: quem pode ser doador, quem pode ser receptor, quem pode realizar este tipo de transplante, quais profissionais irão compôr a equipe, entre outros. O especialista frisa que tudo deve ser feito seguindo as normas éticas, como as demais cirurgias.
Por Luciana Teixeira Morais