Sociedades médicas se mobilizam para coibir o uso do chip da beleza

Impulsionados pelas redes sociais e por perfis de famosos que sobrevalorizam a exposição do corpo perfeito, muita gente busca uma solução fácil para ter uma pele mais bonita, firme, emagrecer e melhorar o desempenho físico. Isso explica a mais recente febre do “chip da beleza”, implante hormonal que vem sendo utilizado indevidamente e que pode causar danos irreversíveis à saúde.

O alerta partiu da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem Nacional), que afirmou recentemente, em nota, que não recomenda o uso de implantes de gestrinona para tratamento terapêutico de endometriose e é contra a aplicação para fins estéticos e de desempenho físico. O posicionamento oficial da entidade sobre uso e abuso de implantes de gestrinona no Brasil foi feito em conjunto com o Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade.

De acordo com o documento, o uso de implantes hormonais, utilizando esteroides sexuais e seus derivados, vem aumentando de forma avassaladora no Brasil. Por serem apresentações customizáveis, existe um real risco de superdosagem e de subdosagem.

Também a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) já tinha criticado o uso como opção terapêutica no tratamento de sintomas da menstruação, menopausa, doenças dependentes do estrogênio (os hormônios femininos) ou contracepção. Em nota, a Febrasgo divulgou que não existem dados suficientes que validem a segurança do uso do dispositivo, especialmente de longo prazo.

A gestrinona começou a ser estudada no final dos anos 1970 para tratamento da endometriose por via oral e, no Brasil, obteve registro na Anvisa em 1996. Mas, conforme a Sbem, não existem estudos de segurança e eficácia da gestrinona para tratamento de endometriose por uso parenteral, particularmente, por meio de implantes.

Como não há produção de gestrinona oral no Brasil, os implantes hormonais são comercializados de forma manipulada, isolada ou associada a outros hormônios. Diante disso, a grande questão é: qual a dosagem e o que está sendo colocado dentro dos implantes? Ninguém sabe ao certo.

A gestrinona também é um hormônio com ações anabolizantes e consta na lista de substâncias proibidas no esporte da World Anti-Doping Agency (WADA). O uso do implante hormonal ganhou espaço no mercado e virou o “queridinho das mulheres” que buscam, de forma fácil e equivocada, o aumento da massa muscular, da libido e melhora da performance física e estética.

Mas há efeitos colaterais sérios do implante de gestrinona relatados em consultórios médicos, entre eles inchaço, alteração do clitóris, mudança da voz, aumento de acne e de oleosidade na pele, entre outros. A Sbem alerta para o aumento de relatos de efeitos adversos associados ao uso de implantes de gestrinona e outros hormônios androgênicos em mulheres, com risco até de complicações cardiovasculares e morte.

Vale destacar que os implantes hormonais trazem benefícios quando bem administrados em pacientes que necessitam e acompanhados por médicos endocrinologistas ou ginecologistas durante o tratamento. Mas, de novo, a utilização de qualquer hormônio com finalidade estética não é reconhecid, e a indicação de hormônios para pessoas que não apresentam deficiências hormonais é contraindicada e pode trazer sérios danos à saúde.

Diante desses riscos, é preciso que haja maior fiscalização da comercialização da gestrinona pela Anvisa, para coibir o uso abusivo que vem sendo observado no Brasil, bem como uma campanha de conscientização sobre os riscos do uso desse tipo de implante.

É importante que as mulheres conversem com seus médicos, se municiem de informações sobre outros tipos de tratamentos com hormônio para fins terapêuticos e não se rendam ao canto da sereia de famosas e influenciadoras em redes sociais sobre a facilidade de ganhos estéticos com a gestrinona. Os riscos para a saúde são grandes, e o alerta já foi dado.

Correio Braziliense

Compartilhe