Pesquisa da Fiocruz Minas aponta que vítimas expostas sofrem de depressão, fobias, transtorno alimentar, entre outros problemas
Divulgar imagens íntimas de mulheres, com cenas de sexo, nudez ou pornografia sem consentimento é crime, conforme o Código de Processo Penal brasileiro. E pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas) assinala que esse ato afeta a saúde de mulheres.
Divulgar imagens íntimas de mulheres, com cenas de sexo, nudez ou pornografia sem consentimento é crime, conforme o Código de Processo Penal brasileiro. E pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas) assinala que esse ato afeta a saúde de mulheres.
Além disso, o estudo mostra que as vítimas passam por outros problemas, como dificuldades de se relacionar socialmente e problemas de autoestima, além dos sentimentos de culpa e vergonha.
Os danos causados, muitas vezes, afetam ainda os vínculos com familiares e amigos, uma vez que estes nem sempre deram apoio às vítimas de violência.
Como foi realizado esse estudo?
Em seu trabalho, Laís barbosa Patrocínio entrevistou 17 mulheres, entre 18 e 62 anos no segundo semestre de 2020. Todas passaram por exposições indevidas de suas imagens. Além disso, o estudo contou com dez profissionais de saúde e de assistência social.
Outro dado importante é que a pesquisa abrange 18 cidades de seis estados brasileiros, de pequeno, médio e grande portes. E como as entrevistas foram feitas no primeiro ano da pandemia de Covid-19, aconteceram por vídeo. Isso foi positivo no sentido de poder abranger maior território nacional, bem como vítimas de classe social, etnias e raças diversas.
Essas mulheres narraram as situações de violência pelas quais passaram ao ter suas imagens divulgadas, como foram afetadas e se buscaram ajuda profissional. Por sua vez, os profissionais relataram como foi feito o apoio e quais cuidados foram ofertados às vítimas.
Quais são os tipos de exposições existentes?
Há mais de uma forma de expor as mulheres. A pesquisa identificou que existem processos de produção, obtenção e divulgação das imagens. Mulheres podem, por exemplo, tanto produzir suas imagens quanto podem tê-las registradas pelo outro, sem consciência de que isso está sendo feito.
E quais seriam os motivos dessas exposições? Também há variações: pode ser afirmação da masculinidade, pressupondo uma relação de poder; uma forma de controle; meio de condenação; vingança ou até mesmo comercialização e extorsão.
A pesquisa afirma, ainda, que em algumas situações a exposição não é apenas uma vigilância da sexualidade feminina, mas fruto de um descontrole do agressor. Algumas das entrevistadas foram expostas quando o parceiro estava alcoolizado e alterado devido a desentendimentos. Assim, a exposição demonstra uma necessidade masculina de controle do comportamento das mulheres.
Essa exposição é uma violência de gênero?
O Brasil é um país conservador que violenta suas mulheres diariamente de diversos modos. Diante desse cenário, até mesmo o contexto acadêmico tem abordagens antiquadas.
Se por um lado a pesquisa de Laís mostra que a exposição de imagens íntimas sem consentimento se trata de uma violência de gênero, por outro mostra que diversos trabalhos científicos não têm essa abordagem.
Apenas 15% das pesquisas acadêmicas sobre o tema classificam o vazamento de imagens como violência de gênero. Nesse sentido, o trabalho de Laís, alinhado à Fiocriz Minas, mostra-se de grande relevância para refletir sobre nossa sociedade e sua produção intelectual.
Publicado por Estela Lacerda